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O Nordeste ensinando a ensinar
Hoje, o Ceará tem os menores índices de pobreza de aprendizagem do Brasil e conta com 10 dos 20 municípios mais bem classificados no ranking do IDEB.
| Assessoria de Comunicação

Um ótimo exemplo que vem do Nordeste do país: o sucesso na alfabetização. Ceará - um Estado relativamente pobre, com 9 milhões de habitantes - e Sobral - um município de 200 mil habitantes. De acordo com o relatório do Banco Mundial, em pouco mais de uma década, os municípios cearenses melhoraram a qualidade do ensino mais rapidamente do que o resto do Brasil. Sobral partiu da posição 1.366º para ficar em 1º lugar nacional no IDEB, tanto nos anos iniciais, como nos anos finais do Ensino Fundamental, além de alcançar níveis de qualidade educacional comparáveis aos dos sistemas de educação de excelência mundial, conforme medido pelo PISA.
Hoje, o Ceará tem os menores índices de pobreza de aprendizagem do Brasil e conta com 10 dos 20 municípios mais bem classificados no ranking do IDEB. Sobral tem algumas das melhores escolas de Ensino Fundamental do Brasil. Além disso, os excelentes resultados educacionais dos alunos de Sobral estão bem acima do que se esperaria do contexto socioeconômico em que eles vivem e aprendem.
O foco principal é ensinar as crianças a ler na idade certa e fazer com que todos do sistema educacional trabalhe em conjunto para alcançar esse objetivo. Veveu Arruda, ex-prefeito de Sobral e diretor-executivo da Bem Comum, em palestra no Seminário Novos Gestores, ressaltou dados do Espírito Santo e dos municípios e demonstrou que, com foco em resultados, a realidade do analfabetismo pode ser mudada. As lições são ainda mais importantes agora que o Brasil e o mundo ainda se recuperam dos efeitos da pandemia e o sistema educacional teve que ser revisto. Para os próximos meses, as decisões terão de ser certeiras para acelerar o aprendizado.
O resultado da avaliação de leitura (fluência) realizada pelo CAED, em agosto de 2019, por meio da parceria PARC (Parceria pela Alfabetização em Regime de Colaboração), mostram que a rede possui apenas 19% de leitores fluentes. O desafio está nas mãos de novos gestores, o de alcançar os 80% restantes.
E, com relação à Educação, realmente desafios não faltam. Arruda orienta os novos gestores a investir na formação de professores, diretores, envio de material didático. “É de suma importância a parceria entre a Secretaria Municipal de Educação e as escolas. É o engajamento pelo diálogo, criando um verdadeiro pacto local para o enfrentamento ao analfabetismo. Não é um decreto que fará isso. É uma escolha do município, que envolve também a sociedade, para alcançar o sucesso na alfabetização.”
O foco na alfabetização tem no seu sentido enfrentar aqueles números desafiadores e estabelecer regras fundamentais que já são praticadas no Espirito Santo, mas que precisa ser fortalecida, de cultura da colaboração, entender que a rede púbica estadual não é apenas do Ensino Médio, mas é aquela rede que começa no município porque a criança é uma cidadã do Espirito Santo”, reforça do diretor-executivo.
“Temos que implantar o “espírito de urgência” para que se alfabetize as crianças na idade certa. Só se faz 7 anos uma vez, 8 anos uma vez. Se antes cobrávamos a presença na escola, agora, vivemos outro desafio, que é o de assegurar o acesso à escola por meio da Internet. Não basta ter um bom secretário (a) de Educação. É o prefeito que tem que liderar, participar de reuniões sistemáticas, ligar para famílias perguntando porque certo aluno não compareceu. Isso traz o pai para a escola. Façam um teste. Em pouco tempo a cidade vai saber do envolvimento do prefeito. Isto é importante para o município entender com a Educação é uma prioridade. É fundamental esta sinalização que você, gestor, dará à população”, disse ele.
Não há política pública que tenha mais impacto na vida de uma pessoa que não seja a política educacional, reforçou o ex-prefeito. “Você oferece as condições para que aquela pessoa tenha sucesso. Claro que vai depender muito dela, mas, se você enfrenta o problema do analfabetismo e tem uma meta de não ter nenhuma criança analfabeta dentro da sala de aula no município em que é prefeito, você corrige um fluxo e cria uma energia positiva em um projeto fundamental e que contribui para o nosso país. Infelizmente, ainda não temos uma política nacional focada neste desafio da alfabetização. De qualquer maneira, é possível, por meio de uma governança local, no Estado e no município, garantir a alfabetização das crianças”, finalizou.
Em relatório do Banco Mundial, há a informação de que o que as escolas de Sobral e do Ceará realizaram está firmemente fundamentado na Ciência da Aprendizagem, que possui três princípios-chave: o aprendizado precisa acontecer com alegria, rigor e propósito; a melhoria requer prontidão, oportunidades e incentivos para melhorar; e a melhoria sustentada do desempenho requer uma devolutiva constante e focada. Sobral, primeiro, seguido dos demais municípios do Ceará, abraçaram estes princípios nas práticas e interações do dia-a-dia dos alunos, professores e diretores nas escolas.
Concretamente, a fórmula para o sucesso educacional do Ceará tem cinco ingredientes principais, que são apoiados por evidências internacionais sobre o que funciona na Educação. Os três primeiros envolvem sólidas políticas pedagógicas e de financiamento, a saber: (i) incentivos, tanto financeiros quanto não-financeiros, para que os municípios alcancem melhores resultados educacionais; (ii) apoio técnico às redes municipais de Educação, que têm dificuldades para melhorar as metas de aprendizagem, com um forte foco no aumento da eficácia dos professores e na obtenção da alfabetização universal na idade certa; e (iii) o uso de um sistema robusto e confiável de monitoramento e avaliação, que analisa continuamente os principais resultados da Educação, principalmente, a aprendizagem dos alunos.
Estes três ingredientes enfatizam a coerência instrucional em termos de alinhamento do currículo (o que se espera que os estudantes aprendam), abordagens pedagógicas dos professores (como os estudantes são ensinados) e avaliação da aprendizagem (como o sistema verifica se os estudantes estão aprendendo). Também mostram uma implementação consistente ao longo do tempo, com base em reformas preparatórias anteriores.
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